Fotos: Hesíodo Góes/Esp DP/D.A Press
O Aeroporto dos Guararapes, que normalmente vira palco para recepção de jogadores, teve uma tarde inusitada após o desembarque do deputado carioca Jair Bolsonaro (PP), que chegou ao Recife nesta quinta-feira para participar de uma extensa agenda que inclui debates, audiência pública na Assembleia Legislativa e almoço com representantes da chamada direita. Bolsonaro foi recebido como um popstar por um grupo grande de militantes, predominantemente homens jovens e adolescentes. Na ocasião, havia ainda seis integrantes da Brigada da Infantaria Paraquedista.
Todos se espremiam para apertar as mãos do deputado, conseguir autógrafo ou tirar uma foto com ele, que foi ovacionado e chamado de “mito, mito, Bolsomito, Bolsomito”. Ao chegar ao estacionamento do aeroporto, o parlamentar subiu numa Pajero Dakar de cor preta e discursou de um megafone para a plateia que cantava o Hino Nacional de forma fervorosa. O mesmo público que pedia “fora, Dilma, for a Dilma” e enaltecia o golpe militar de 1964.
Em meio aos discursos, Bolsonaro, que foi acompanhado do deputado estadual Joel da Harpa (PROS), botou um óculos escuro, que virou meme na internet, abriu os braços e foi ovacionado mais uma vez pelos que estavam presentes, visivelmente militantes espontâneos (não pagos). “Muito obrigado pela recepção. Eu peço a Deus que eu possa retribuir todo esse apoio. Podem ter certeza que o Brasil é nosso!”, discursou o deputado, sentado em cima de veículo.
Um dos repórteres presentes na recepção se pendurou no carro, espremido pela multidão, e perguntou ao deputado o que ele tinha achado sobre a escolha do relator do processo de cassação no Conselho de Ética contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). “Primeiro a Dilma”, respondeu. “Depois a gente conversa”, acrescentou, ao ser mais uma vez questionado sobre o colega de parlamento, que está sendo alvo de várias denúncias. “Não existe corrupto sem corruptor. Corruptor é a Dilma e o Lula. O inimigo do Brasil é o PT e a Dilma”, disse, personalizando a corrupção.
Na recepção, foi possível ver um grupo de skinheads, todos tatuados e de cabeças raspadas, ao lado do filho de Bolsonaro, Flávio. Um dos skinheads deu entrevista à reportagem de forma cordial e foi indagado porque defendia a ditadura militar, quando estava ali protestando de forma livre e tinha muitas tatuagens no corpo – algo que era tratado com repúdio pelos militares no período de ditadura. Ele explicou os motivos, disse ser contra a corrupção, mas um dos amigos que estava ao seu lado começou a acusar a reportagem de ser “manipuladora”. “Por que pode ser comunista e não pode ser nazista?”, esbravejou o rapaz para a reportagem, o que tem sido comum nesses eventos. “É para ter censura mesmo”, continuou ele, ao que os repórteres tiveram que se retirar.
Outro adolescente, de 17 anos, foi indagado se ele não lamentava o fato de Bolsonaro já ter ofendido uma deputada, ao dizer que ele não merecia ser estuprada por ser feia. “Ele não disse isso”, negou o rapaz, acrescentando que a deputada realmente “não merecia ser estuprada”. “Bolsonaro tem um projeto de lei para castração química de estuprador”, defendeu.
Políticos vaiados
O voo de Bolsonaro veio repleto de parlamentares do estado, como Sílvio Costa (PSC), Carlos Eduardo Cadoca (PCdoB), Jarbas Vasconcelos (PMDB) e Daniel Coelho (PSDB). Daniel apertou as mãos dos jovens que estavam na espera de Bolsonaro e foi bem recepcionado. Jarbas e Cadoca tiveram uma recepção indiferente, enquanto Sílvio Costa, o senador Fernando Bezerra (PSB) e o superintendente da Sudene, João Paulo, foram vaiados e chamados de “ladrão”. Um delegado presente na recepção autorizou que adolescentes e jovens fizessem um cordão de isolamento para Bolsonaro, mas houve muito empurra-empurra e por pouco alguém não se machuca.
Diário de Pernambuco