sexta-feira, março 06, 2015

BOLSONARO RECUA E DIZ: "NENHUMA MULHER MERECE SER ESTUPRADA"

Bolsonaro defende salário igual para homem e mulher no setor público, mas diz ser difícil remuneração igual na iniciativa privada. Foto: Divulgação
Bolsonaro defende salário igual para homem e mulher no setor público, mas diz ser difícil remuneração igual na iniciativa privada. Foto: Divulgação
O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) já virou sinônimo de polêmica dentro da Câmara. Ele já entrou em brigas, agrediu e até xingou colegas de Parlamento. Um dos casos de maior repercussão foi quando ele disse à deputada Maria do Rosário (PT-RS) que só não a estupraria “porque ela não merecia”.
Em entrevista, Bolsonaro diz que foi mal interpretado em sua declaração e afirma categoricamente: “Nenhuma mulher merece ser estuprada”.
Além disso, o deputado diz também lutar por direitos das mulheres dentro da Câmara, dizendo ser um dos parlamentares “que mais defende as mulheres”.
Veja a entrevista completa com o deputado:
O que o senhor pensa sobre leis que protegem as mulheres, como a lei Maria da Penha?
Eu não admito crime passional. É uma coisa hedionda o homem querer ser dono da mulher. E, de vez em quando, o contrário também. Tem umas mulheres também que acham que são donas dos maridos. Mas a grande massa da violência é do homem contra a mulher. Eu tinha um cara que trabalhava comigo que quase toda semana ele chegava espancado para trabalhar. Em uma das últimas vezes eu falei: “amigo, você tem que resolver a tua vida”. É um caso que é quase uma exceção nesse conflito passional e ele resolveu a vida dele. Há muito tempo ele não está mais apanhando da mulher.
Mas a mulher costuma ser mais vítima que agressora…
Eu acho que a proteção maior tem que ser em cima da mulher. Porque ela, realmente, carrega a maior carga de sacrifícios em um relacionamento: é cuidar de filho, é cuidar de casa… A mulher tem muito mais motivos para estar sem paciência do que o homem. Não dá certo? Chegou a um ponto que passou um limite? É cada um buscar o seu norte. Agora, o que eu sempre defendo nisso: antes de você ter um relacionamento sério, você tem que buscar sua independência econômica. Para não ficar, muitas vezes, sofrendo em casa em troca de um prato de comida. Ela tendo independência econômica, ela vai ter independência em casa.
O  senhor é a favor de uma lei que garanta salários iguais entre homens e mulheres?
Se você prestar concurso para a Câmara, aqui em Brasília, o nosso salário é igual. Se a gente prestar concurso para as Forças Armadas, vai ser igual. Mas, na esfera privada, nós não temos como impor isso aí. Quem faz o salário do homem, da mulher, ou seja de quem for, é o patrão. Não sou eu que estou falando isso, é o mercado que fala isso. Tem mulher, muitas vezes, que ganha muito melhor do que o homem. Se nós formos impor um salário igual na esfera privada, aí já partimos para o comunismo. Eu entendo que a democracia é o mérito. Se você estudou mais, está mais bem preparado, você vai ter uma melhor remuneração lá na frente. Não vou nem entrar no lado de certas pessoas que contratam mulheres ou homens e paga-se melhor que todo mundo, por outros objetivos. A questão da igualdade tem que ser buscada, você não pode impor.
O que o senhor pensa sobre a licença-maternidade?
O patrão dessas pessoas não sou eu. A questão da produtividade não altera em nada. Substitui. Tudo bem, você vai ter os seus direitos todos, mas, por favor, dá uma ligadinha pra cá todo dia e pergunta, pelo menos, se ninguém morreu aqui. Pelo o que a classe patronal me diz, muitas mulheres entram, engravidam tempos depois atrás da estabilidade do emprego e atrás da licença-maternidade.
Como assim?
Muitas vezes, durante a licença-maternidade, a mulher engravida de novo e não pode ser mais demitida. A mulher tem que se conscientizar que ela tem que manter um vínculo com a sua empresa. Se não, ela mesmo é quem vai perder lá na frente. A classe da mulher que vai perder.
Então o senhor não critica a licença-maternidade?
Não! Não tem nada a ver! A licença-maternidade é justa. O que acontece no Brasil é que usam a mulher. É moda agora jogar branco contra negro, homossexual contra heterossexual, rico contra pobre… E agora mulher contra homem em cima do salário igual. Muitas vezes o João merece ganhar mais do que a Maria, ou o contrário.
O senhor considera que a presença das mulheres dentro da política é positiva?
As mulheres são iguais aqui dentro. Agora, a mulher sempre tem mais apelo aqui. Se eu chamar uma deputada de feia, o mundo cai na minha cabeça. Agora, se a mulher me chamar de feio, muitos deputados vão me sacanear. Agora, que tem mulher aqui idiota, tem. E não são poucas. Eu não quero citar nomes. Mas idiota, que eu digo, é em demagogia, ao populismo, a defender o que é errado, a não se comportar de maneira adequada de acordo com as teses defendidas.
O senhor acha que deveria ter mais espaço para a mulher na política?
É só vocês [mulheres] fazerem campanha. Tentar convencer a sociedade. Você não pode querer criar cota numérica para mulher. Por exemplo, a deputada Zulaiê Cobra, eu achava ela uma excelente parlamentar. Não sei por que vocês mulheres não a reelegeram. Mas ela tinha uma posição muito firme aqui, falava com convicção e olhava olho no olho de qualquer um. Porque ela defendia casos com profundidade e com razão. Diferente de algumas mulheres que falam “ah! O Bolsonaro está fazendo apologia ao estupro” e nem sabem o que aconteceu.
O que o senhor quis dizer quando fez a declaração sobre o estupro?
O que aconteceu? Má-fé de grande parte da mídia e das deputadas que me processaram.
Qual era o objetivo do senhor com aquela declaração?
Tudo aconteceu em 2003. A Maria do Rosário [deputada federal do PT-RS] estava aqui na CPI da Pedofilia e resolveu potencializar todo o trabalho, aquele ‘vitimíssimo’ todo dela. Ela descobriu um local em Porto Alegre onde se praticava a pedofilia e ela armou um flagrante lá. Em novembro, um marginal chamado Champinha surpreendeu um casal de namorados em uma barraca na periferia de São Paulo. Eu fui convidado pela RedeTV! para que eu falasse porque sou favorável a redução da maioridade penal e eu não sabia que a Maria do Rosário ia falar depois de mim. Terminada a entrevista, a Maria do Rosário interferiu. Isso tudo está filmado. Então, não sou eu que estou falando. E daí ela começou falando para mim o seguinte: “por causa de discursos como esse, de posições como essa, é que a violência no Brasil é cada vez maior”. E ela balbuciou a palavra estuprador. Daí eu perguntei para ela: “eu sou estuprador”? E ela fala: “É”. Aí eu dei aquela resposta para ela [o deputado chamou Maria do Rosário de vagabunda].
O que aconteceu no plenário da Câmara foi uma reação?
Foi um ato de reflexo. Você dá um chute em mim, eu dou uma cotovelada em você. Como é que isso voltou à tona agora em dezembro de 2014? Primeiro começou na mesa, eu estava lá, pronto para falar e vi na ordem de descrição que ela iria falar antes de mim e eu vi que ela foi para a mesa e conversou com o deputado Amauri Teixeira. E daí ela resolveu falar. Esculachou as Forças Armadas, com o relatório da “comissão da patifaria”, conhecida como Comissão da Verdade. E quando ela falou um montão de asneiras, eu fui o próximo e eu falei: “Maria do Rosário, fica aí. Há alguns dias você me chamou de estuprador e eu te respondi isso [o deputado disse que só não estupraria a deputada porque ela não merecia]”. Eu rememorei o fato. E o que a esquerda faz? Pega só o momento que eu falei aquilo que eu falei para ela, que ela não merece ser estuprada, e dá a entender que [...] outra merece. A própria campanha da Maria do Rosário entre outras era “eu não mereço ser estuprada”. Então se ela não merece ser estuprada a minha mãe merece? Então eles não têm do que me acusar e vão para a esculhambação.
Então o xingamento foi um reflexo?
Ela foi defender o estuprador Champinha, com 17 anos de idade. Ela foi defender um crime hediondo. Ela me chama de estuprador, ela me coloca no nível de que? E foi a resposta que eu poderia dar para ela. Foi um ato-reflexo. Ela me chama de estuprador e eu fico com cara de pastel ali? Aí a RedeTV! coloca a matéria a noite e ela me chama de estuprador e eu com cara de pastel? Concordando? Aí dá a impressão que eu sou um estuprador mesmo. Poderiam até se perguntar: “será que ele é estuprador e não reagiu para que não fosse avante essa afirmativa da Maria do Rosário”?
O senhor concorda, portanto, com esse argumento dela de que a mulher não merece ser estuprada?
Nenhuma mulher merece ser estuprada. Mas aí o jornal Zero Hora veio com uma armação para cima de mim, de que eu teria falado que é porque ela é feia. Na resposta que eu dei para o Supremo Tribunal Federal e para o Tribunal de Justiça aqui foi: mande o áudio na íntegra. Quem sugeriu a palavra feia foi o jornalista do Zero Hora. E eu falei: “bota o que você quiser aí, cara. Você está sugerindo… É feia, é gorda, é magra, é mulata, é morena, é branquela…” E ainda falei para ele: “eu não sou especialista em estupro, mas pelo o que eu sei o estupro não é daquele cara que fica atrás da árvore aí e a primeira mulher que passar ele estupra. O estuprador escolhe sua vítima”. E para mim ela pode ser bonita, para outro ela pode ser feia, para outro pode ser intragável…
A imprensa exagerou?
Tentaram levar para todo o lado e colocaram só um pedacinho. Que eu estaria recomendando: “Eu não estupraria a Maria do Rosário porque ela é feia”. Tá de brincadeira! E daí a Manuela D’Ávila vem, porque ela também é apaixonada por mim nesse aspecto, e diz que se eu falei isso eu estou me revelando um potencial estuprador.
O senhor é favor de existir o Dia da Mulher?
Não tem problema. Eu quero mais é que vocês façam a maior festa do mundo. Na minha esposa, eu vou fazer um carinho especial. E na minha filha, na minha enteada. Vamos valorizar a mulher, pô! Coitada da mulher. Olha… Hoje em dia… Coitada da mulher. Como ela é desvalorizada pela grande parte da bancada feminina aqui da Câmara. Eu acredito que sou um dos caras que mais defende as mulheres aqui dentro.
Fonte: R7