terça-feira, dezembro 02, 2014

PRODUTORES AFIRMAM QUE GOVERNO ROSALBA CIARLINI QUEBROU BACIA LEITEIRA DO ESTADO

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A governadora Rosalba Ciarlini (DEM) deverá receber o título de pessoa não grata à pecuária leiteira do Rio Grande do Norte. Responsável pelo Programa do Leite, a governadora tem sido insensível aos apelos feitos pelo setor, com vistas à utilização da máquina pública como fomentadora de um segmento que produz. Com isso, nos últimos dez anos, a bacia leiteira do Estado tem definhado, está desestruturada e, hoje, corre o sério risco de se desintegrar, beneficiando indústrias de outros estados que estão mais organizadas e ávidas por invadir o RN. Para o setor, Rosalba já quebrou a bacia leiteira do Estado.
Depois de passar por um período de crescimento, “há pelo menos uma década o Programa do Leite passou a se constituir num agente desestabilizador da bacia leiteira do Rio Grande do Norte, por forçar, na condição de maior comprador do produto, o mercado a manter o preço do leite ‘in natura’ em valor insuficiente para cobrir os custos de produção e por consolidar a prática dos atrasos no pagamento das faturas emitidas pelos fornecedores”, afirma o jornalista Marcos Aurélio de Sá, em análise publicada na coluna “Hoje na Economia”, na edição de ontem de O Jornal de Hoje.
Nesta terça, confirmando a avaliação do jornalista, o presidente do Núcleo dos Criadores das Raças Produtoras de Leite do RN (NULEITE), filiado à Associação Norte-Rio-Grandense de Criadores (ANORC), o agropecuarista Manoel Montenegro, disse que, de fato, a federação potiguar, por obra e graça de seu governante de plantão, se consolida cada vez mais como sendo o estado onde se gasta 200 para alguém não ganhar 20 e como terra dos piotários. “No RN se gasta 200 para alguém não ganhar 20. E, por outro lado, aqui é o estado dos piotários, ou seja, somos pioneiros no Programa do Leite no Nordeste e no Brasil, e hoje estamos sendo os otários em estarmos nos acabando em virtude do Programa do Leite”.
O problema é que, nos últimos quatro anos, Rosalba conseguiu desmantelar por completo a cadeia produtora e obrigar a quase totalidade dos agropecuaristas, que ainda teimavam em preservar suas vacarias, a desativá-las. “Por um mistério insondável, que até aqui ninguém conseguiu decifrar, quanto mais os produtores rurais do Rio Grande do Norte sofrem com os efeitos de três anos consecutivos de seca, mais leite entra nos laticínios e usinas de pasteurização, a ponto deles se negarem a receber o produto de fornecedores tradicionais sob a desculpa de que estão com excesso de oferta”, analisa Marcos Aurélio de Sá.
SUCESSO
Para Manoel Montenegro, quando o governador Garibaldi implantou o Programa do Leite no RN, a ação era balizadora do preço dos custos da produção de leite e do crescimento da bacia leiteira do Estado. O programa atendia a vários objetivos: fixação do homem na fazenda e no campo, recuperação da produção da bacia leiteria do RN, pois o leite vinha de PE ou AL, atendimento social das crianças, pela desnutrição, que era um grave problema de saúde pública, além de gestantes, pessoas com problemas nutricionais e idosos.
“Com isso houve crescimento do setor e o RN passou a ser autossuficiente em produção de leite. Tínhamos três usinas beneficiadoras de leite, passamos a ter 28. O Ministério da Agricultura ‘sifou’ (deu o selo de inspeção SIF), às usinas. Em cinco anos (de 2000 a 2005), o estado passou a ter 6 usinas sifadas (Mossoró, Caicó, Currais Novos, duas em Natal e uma em Itaipu). Essa usinas poderiam comercializar os nossos produtos industrializados para diversos estados do Brasil. Currais Novos chegou a vender queijo de coalho para o RJ, a gente vendia para a PB e em PE. Houve melhoria do rebanho na área genética. E as usinas passaram a integrar o Programa do Leite como um regulador de mercado”, relata Montenegro.
Na época, o governo do RN distribuía 150 mil litros de leite por dia, enquanto que o Estado produzia três vezes mais (600 mil litros). Com isso, houve um boom no setor. “Passamos a produzir bebidas lácteas, iogurtes, queijo de manteiga, queijo coalho, ricota, mussarela, vários derivados. Houve um período de até dez anos de equilíbrio na produção de leite e de seus derivados industrializados”.
PROBLEMAS
Com o problema da seca dos últimos três anos, houve perda de 40% desse rebanho. “E os 60% que foram salvos o foram à custa das lágrimas, suor e sangue do agropecuarista”, recorda Manoel Montenegro. “Comprando soja, milho, farelo de trigo e torta de algodão, para salvar o rebanho. Houve um desequilíbrio do programa de leite por conta dos atrasos sucessivos que ocorreram do governo do Estado”, frisou ele.
Isso ocorre porque o grande comprador de leite tipo C, beneficiado pela indústria local de laticínios, é o governo do Estado, através do Programa do Leite. Enquanto o governo apostou no setor, existiu um crescimento muito grande, por exemplo, nas queijeiras do Seridó. “Chegamos a ter mais de 400 queijeiras no Seridó, nos seus 25 municípios. Tínhamos mais de 11 mil fazendas produzindo leite. Com esse desequilíbrio da seca, com o desequilíbrio do Programa do Leite, com a diminuição de 150 mil litros produzidos para 60 mil litros, está havendo um desequilíbrio na comercialização em todo o Estado e em toda cadeia produtiva. E quem está pagando o preço mais caro é o produtor. No próximo ano vamos ter uma crise muito grande de falta de produção, pelo desestímulo hoje para o produtor, e ainda diminuir o rebanho. Além disso, vai entrar leite de outros estados e quem vai perder é a população mais pobre do campo, que tem um rebanho pequeno”, diz Manoel Montenegro.
ESQUEMA
Para completar, há denúncias gravíssimas de fraude rondando atualmente o programa, o que deverá merecer uma investigação mais acurada por parte do Ministério Público. Programa sempre envolto em suspeitas de malversação da parte de gestores públicos, o Programa do Leite já foi alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Assembleia Legislativa, ainda no governo Garibaldi.
Hoje, as suspeitas de irregularidade recaem sobre a origem e a fórmula do leite que as usinas credenciadas estão entregando ao governo do Estado no dia a dia. “Pululam denúncias de que o leite distribuído de graça, diariamente, pelo programa social do governo Rosalba Ciarlini às dezenas de milhares de famílias carentes não passa de um coquetel de substâncias de menor valor nutricional e econômico”, informa Marcos Aurélio de Sá, em sua coluna. A realização de análises bromatológicas em períodos intermitentes atestariam a qualidade e a pureza do produto entregue ao Programa do Leite.
Manoel confirma a denúncia. Segundo ele, há várias informações circulando no mercado de que tem usinas diluindo leite em pó de péssima qualidade e fazendo leite para distribuir no Programa do Leite. Além disso, as queijeiras passaram a fazer queijo sem ter um controle sanitário adequado.
SOLUÇÃO
Algumas das soluções para o problema, aponta o presidente da NULEITE, é o governo, através do Instituto de Defesa e Inspeção Agropecuária (IDIARN), realizar rigorosa fiscalização nas usinas, em parceria com a Emater e a Emparn, sobre a qualidade do leite que está sendo distribuído. Também se faz necessário proibir o uso sistemático de leite em pó para entrega no Programa do Leite, in natura, produzido no RN. E dar orientação técnica nas queijeiras para produzir queijo de boa qualidade, além de incentivar o uso desse queijo na merenda escolar.
“Os grandes beneficiados deste quadro de desarticulação são as grandes usinas que encontrarão um mercado no RN desmantelado. Para ter uma ideia, hoje tem no RN produtos derivados de leite oriundos de 25 estados do Brasil, quando nossas usinas poderiam produzir os mesmos produtos”, revela. “O governo deveria imediatamente chamar as usinas e dizer e baixar o preço para o produtor. Porque não é justo população pagar mais caro”.
Jornal de Hoje